Mel, que de doce não tinha nada (mas era linda mesmo assim)
Esse post vai ser meio deprimente, então fica o alerta.
Não sou boa em me expressar falando, principalmente falando diretamente pras pessoas, então decidi escrever esse post. É uma forma de colocar pra fora e também vai servir com um memorial e um atalho pra toda uma conversa que no geral não sei ter.
No início do ano de 2004, abandonaram um filhotinho de gato no pátio aqui da escola (pra quem não sabe: sim, eu moro em uma escola. conto essa história em outro post). Ela parecia um ratinho molhado de tão feia kkkkkkkkkk e vó trouxe pra casa pra gente cuidar enquanto não arrumava um dono. Até então meu último animal de estimação também tinha sido resgatado da rua, mas a doguinha parecia ter se perdido de casa e acabamos achando os donos. Então eu tava na bad e a ratinha molhada me parecia um sinal de ESPERANÇA. No fim das contas, a professora da escola que iria ficar com ela não pode mais, e a gata ficou. Tratei logo de chamar de Mel, influências de O CLONE (outros nomes: SHIBA, SHIBINHA, MODESA, BEBÊ, GODA, PETA, ITI MALIA).
Enfim, passei então essa última década (quase duas décadas, misericórdia), cercada pelos três. A Mel, em especial, era como uma melhor amiga. É engraçado que por mais que eu sempre falasse "VEM CÁ COM A MAMÃEEEEE" meu sentimento por ela não era exatamente de filha. Não sei explicar, mas ela tinha um jeito tão majestoso e adulto, parecia uma pessoa no corpo de um gato. Decidida, irritada, animada, ela botava a banca com os outros gatos (leia-se: distribuía porrada). Não tinha pra ninguém.
Em casa, a Mel chegou a andar pela casa, muito franquinha, caindo pelas tabelas. Ela queria ir fazer xixi mas não conseguia. Queria beber água, mas não conseguia. A gente foi alimentando ela, limpando ela, enfim. Fazendo o que dava. Acordei domingo de manhã cedo com vó chamando ela feito doida, a Mel parecia estar tendo uma convulsão ou espasmo, não sei dizer. Passamos a ficar nos revezando do lado dela, vigiando. Teve mais um espasmo e decidi que não dava pra esperar porra nenhuma, fui atrás de uma emergência veterinária. Felizmente, descobri que tem algumas clínicas mais ou menos perto e marquei consulta de emergência em uma.
ENQUANTO ISSO meu avô tinha ficado de vir aqui jogar o sofá fora (uma história louca, mas em resumo: virou ninho de baratas), então a gente tava arrumada só esperando ele chegar pra gente levar ela. A essa altura ela já não tava mais andando. Tava deitada, sem se mexer além dos espamos. Os olhos dela estavam bem fundos, ela não tava reagindo à nossa voz. Enquanto a gente tava vendo uma forma de dar água pra gata sem ela engasgar, reparei que as gengivas já estavam meio roxas, sabe. Eu sabia que ela tava morrendo, mas esperava que desse tempo de levar na emergência.
Mas não deu. Eu tava sentada no chão do lado da Mel, minha avó sentada cadeira de frente pra ela. Fui fazendo carinho pelas costas dela, os ossinhos do peito, reparando na movimentação até que vi que o movimento de respiração parou. E um tempo depois foi o coração. Eu vi ela morrer, mas pelo menos a última coisa que a Mel viu e ouviu foi nós duas, do lado dela. Ainda fiquei mais uns minutos fazendo carinho, vendo se tinha parado tudo mesmo mas já tinha ido. No chão da nossa sala, embrulhadinha numa canga porque ela não conseguia ficar na caminha de jeito nenhum.
Vó pegou a toalha velha que a gente ia usar pra levar no vet e enrolou o corpinho dela ali enquanto eu procurava algum lugar pra fazer o serviço funerário porque eu NÃO IA enterrar ela em qualquer terreno baldio, sabe. Felizmente achei um serviço com preço bom, fui bem atendida e vieram buscar ela em menos de uma hora. O moço deu até um potinho com sementes de girassol, tipo condolências. Escolhemos cremação coletiva mesmo, porque a individual tem um lance lá de transmitir ao vivo a cremação e pelo amor de deus, eu não tenho estruturas pra isso. Depois ainda teria que pensar em onde lançar as cinzas dela. Eu não tinha mais NEURÔNIO pra pensar, só queria entregar pra alguém que cuidasse bem do corpo dela então foi isso. Vou receber tipo a digital da patinha dela como lembrança.
Agora fica a estranheza, né. Enquanto eu fazia meu prato do almoço, parti a carne no meio com a intenção de guardar pro jantar da Mel, como eu sempre fazia. Tá lá os três potes de ração ainda. Tenho 510 reais de despesas veterinárias parcelado em duas vezes pra pagar. O Tom e a Nina estão estranhos, parece até que eles sentiram o cheio da morte ou coisa assim no lugar onde a Mel tava. Enfim.
Apesar de uma parte da minha alma ter morrido junto, pelo menos sei que ela viveu 17 anos bem saudável e feliz. E morreu em casa, tranquila e cercada pela gente. No fim das contas é o que importa.
Finalizo esse post com um """poema""" que fiz pra ela, do alto dos meus 11, 12 anos. Horrível, mas nunca esqueci esse trecho. Risos.
Mel
Não tenhas pressa
Pois logo depressa
Voltará ao telhado
E explorará o desconhecido
Comerá os insetos que tanto gosta
E o mais importante
Se divertirá
Amiga eu tô aqui emocionada, foi uma bela homenagem. Fico feliz em saber que ela estava com vocês, ela sabia que era amada, querida que agora podia descansar. Sei que você jamais vai esquecer ela, mas com o tempo, as lembranças só serão dos bons momentos juntos.
ResponderExcluirEu nunca tive muito contato com gatos porque ninguém da minha família tinha e meus pais não deixavam eu ter porque eu era alérgica (nesse momento você dá uma risada bem alta). Os primeiros gatos que eu tive maior contato foram os seus. E foram momentos de muita honra a primeira vez que eu cheguei na sua casa e eles ouviram a minha voz e foram me cheirar, ao invés de fugir pro quarto da sua avó ou pro TELHADO (A Nina demorou mais mas chegou a me reconhecer também). Foram muitas descidas de noite na escola pra ver onde a Mel tava, e apesar do trabalho (pois quatro lances de escada) e provavelmente ser mais um dia na sua rotina, eu achava tudo muito maneiro e uma grande aventura (quem lembra o dia que de noite a Amanda viu crianças e eu vi a professora em uma sala vazia?). Uma vez, há muito tempo atrás, provavelmente ainda estávamos no ensino médio (ou tínhamos acabado de sair), você me disse que nunca tinha tido uma irmã e que a nossa amizade te dava essa sensação. Eu nunca tive animais de estimação e sempre tive um grande carinho pelos seus, como se fossem meus também. A Mel sabe com certeza o quanto ela foi amada por você e sua avó. Nesse momento eu gostaria de poder te dar um abraço, fazer uma festa do pijama e relembrar história da Mel, mas como não podemos, deixo aqui meu comentário.
ResponderExcluirSinto muito que você tenha passado por tudo que passou esses dias (você não tem culpa de absolutamente nada e, ah, como o karma desse veterinário vai ser bonito!), mas tenho certeza que esses últimos dias foram pacíficos pra Mel. Esse texto foi uma das coisas mais lindas que eu já li, uma homenagem digna de alguém que foi tão amada como a Mel foi. Eu te amo, enviando abraços quentinhos de todos nós daqui de SP, da casa dos Fagundes.
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